sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Os dimenó

De novo a polêmica politiqueira de reduzir a maioridade penal. Não vou entrar nos meandros jurídicos porque não tenho a menor qualificação para isso. Mas parece que a matéria carece de fundamento, pois até a Constituição teria que ser mudada. Enfim é um papo que não dá em nada. Porém... ah, porém...

1) Estamos falando de um país com abismos entre a opulência e a miséria, lado a lado.

2) Onde educação é artigo de luxo e a oferecida pelo Estado é um lixo.

3) É PROIBIDO empregar um menor de dezesseis anos.

4) Nas periferias, o Estado é deficiente ao quadrado e os criminosos o substituem a seu modo.

5) E, por fim, o suposto sistema de recuperação de menores não oferece nada capaz de tal.

Agora o outro lado da moeda:

O que se entende por maioridade, com base apenas na faixa etária é uma balela. Usa-se conceitos de juízo que remetem à Idade Média. Ou alguém acha que um menino de quatorze ou quinze anos hoje é uma pobre criatura ingênua e desprovida de informação?

O tio começou a trabalhar no mercado formal aos treze anos mal-feitos, depois de muito custo para convencer o avô Xavier a assinar uma maldita autorização no juizado de menores. Acho que foi meu primeiro trabalho de venda fazê-lo entender que eu queria trabalhar e ganhar meu dinheiro. O trabalho era duro em uma loja de materiais elétricos. Eu tinha que caminhar quilômetros todos os dias debaixo de sol e de chuva entregando faturas. A caminhada lotava de bolhas os meus pés, que eu escondia dos meus pais para eles não inventarem de me tirar do trabalho. Terminadas as faturas, o tio tinha que se revezar entre o balcão da empoeirada loja, carregar peças pesadas e fazer à pé algumas entregas de materiais não tão confortáveis como rolos de fios e cabos, caixas de isolantes de porcelana e ferragens elétricas. Aos sábados vinha o pior: após abrir as portas de ferro, varrer a loja e atender no balcão o tio tinha que lavar o banheiro, que o gerente japonês pinguço emporcalhava a semana toda.

Não quero louros nem medalhas, mas só dizer uma coisa: EU NÃO MORRI POR TRABALHAR. Nem ao menos fui mal na escola, já então no período noturno. À noite na escola estadual a faixa etária dos alunos era bem maior que a minha. Tinha maconheiros, punguistas, vagabundos profissionais e até alguns alunos bons. O tio preferiu ficar no time destes últimos e não despencou para o mundo do crime. Namorei, beijei e curti minha puberdade como qualquer garoto normal, escondendo revistinhas de sacanagem e folheando-as com uma só mão, dada a outra estar ocupada. Conseguia fazer tudo isso trabalhando.

Então, senhores panacas, hipócritas, aproveitadores e demagogos que apregoam essa merda de que os dimenó não podem trabalhar, VÃO À MERDA. O mesmo eu digo aos que alegam que esses dimenó não têm senso formado para serem culpabilizados pelos seus atos. Ainda mais hoje com a quantidade de informações disponíveis.

Aos que assinam autorização para seus filhos guiarem carros aos dezesseis anos, aos que deixam seus filhos tirarem título de eleitor, embora seja facultativo nessa idade, aos que têm grana e correm tirar seis filhinhos infratores das frias e ainda dizem aos quatro ventos que os pobrezinhos são dimenó e logo inocentes eu digo: VÃO À MERDA! Tomara que seus delinqüentinhos arrumem namorados e namoradas como os irmãos Cravinhos e a Richtoffen, se é que me entendem...

Redução da maioridade penal, sim. Já passou da hora. Com trabalho e educação para todos.

Um comentário:

Bizarro disse...

BRAVO! CLAP CLAP CLAP!