quarta-feira, 31 de maio de 2006

Pena de amputação

"E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena." (Mt 5, 30) Por alguma razão esses versos ecoaram em minha mente hoje. Embora eu reconheça que o Estado seja absolutamente incompetente, indigno e parcial demais para aplicação de penas criminais, penso que a pena de amputação possa vir a ser algo interessante.

Contudo o mito do "Estado de Direito" ignora que os direitos e deveres são estabelecidos por grupos específicos e/ou são influenciados pelos tais. Basta dizer que quem faz as leis por aqui são os nobres senhores deputados (federais e estaduais), o nobres senhores senadores e os nobres senhores vereadores (alguém já viu como os hipócritas tratam-se pelo adjetivo nobre quando estão se pronunciando nas tribunas?). Pelo andar da carruagem, é pornográfico imaginar o que esses senhores mandatários fazem nos bastidores e nas tribunas das respectivas casas legislativas. "Eu acho que as leis são como as salsichas. É melhor não ver como são feitas" teria dito Otto von Bismarck. Por isso - e só por isso - é que eu jamais aceitaria as penas irreparáveis, como a amputação e a morte, como plausíveis nas condenações criminais ministradas pelo Estado.

Mas agora vou ao ponto: Se eu pegar o desgraçado que roubou o som do meu carro, aplicarei a pena de amputação ou inutilização parcial eu mesmo. Entendo perfeitamente que a coluna da porta de um carro popular e um CD player, ambos com mais de cinco anos não valham uma vida, ainda que seja a de um lixo-humano viciado em pedra, que logo morrerá mesmo. Mas estou certo de que um tiro no cotovelo ou na rótula será suficiente para minimizar a probabilidade de novas ações do meliante enquanto o crack não o mandar para o limbo. Rastro do desinfeliz eu já tenho. Tá avisado.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Patriota até que posso ser... tonto não

Cena 1: Oito e pouco da manhã. Vejo um repórter na TV Record emocionadíssimo mostrando o estádio onde ocorreria o amistoso de um timeco de merda da Suíça contra a selecinha. Detalhes arquitetônicos, preço dos ingressos, características da cidade, etc.. O ânimo do reporter sugeria uma grandiosa partida, digna de final de campeonato contra um adversário praticamente imbatível. Como conhecimento não ocupa espaço - ao menos é como penso - decidi-me a assistir à reportagem até o fim.

Cena 2: Fim da tarde. Estou voltando de um importantíssimo evento que periga me render um maço de reais. No carro estão Robbins* e Schlebts*. Ambos profissionais de Informática que também tinham ido participar do mesmo evento. O motorista seguia pela marginal Tietê enquanto tagarelávamos sobre o evento e os possíveis resultados. Eis que Robbins resolve tocar no temido assunto: Fifa World Cup®. Dizia estar pronto para - nas palavras dele - "o embate com as seleções inimigas". Tinha tinha comprado dezenas de pacotes de pipoca para microondas, outras dezenas de caixas de latinhas de cerveja, uma dúzia e meia de pets de Coca-Cola de 3 litros, camisetas oficiais para toda a família, bandeira para colocar na janela de casa, corneta pra tocar na hora do gol e oito caixas de rojões de doze tiros. Ah! E também estava colecionando todos os álbuns de figurinhas a respeito.

A Schlebts mostrou-se igualmente a la torcida canarinho. Entre outras coisas gabava-se de ter acordado todas as madrugadas para assistir aos jogos quando a copa fora no Japão (foi no Japão mesmo? agora estou em dúvida). Eis que, percebendo meu silêncio de quem seguia alheio ao tema, resolveram me abordar, para saber qual seria minha contribuição ao patriotismo futebolístico:

- E aí tio, como você vai agitar a Copa lá no seu pedaço?
- Eu?
- Sim, claro! Você! E aí?
- Ah... tá... a Copa...
- Então?
- Então o que?
- Porra, você vai assistir os jogos onde, com quem, agitou uma galera, tem telão na sua empresa?
- Ah.. sinceramente?
- ...
- Periga eu não assistir a bosta nenhuma.

CORO:
- Coooooomo assiiiiiiiim? O que você está querendo dizer? Por que não assistiria?

Desisti de disfarçar:

- Ah, foda-se a Copa, a seleção, o técnico e a taça! Eu não tenho o menor saco pra futebol. Muito menos pra essa merda de Copa que não me acrescenta nada, não me rende dinheiro e nem consegue me entreter. Quero mesmo que caia uma tempestade de granizo a cada jogo. Pronto, falei!
- Não pode ser! Você não é patriota. Aliás nem deve ser brasileiro.
- Brasileiro eu sou com muito gosto. Patriota quando é preciso. Mas reservo-me o direito de não ser bobo-alegre-verde-amarelo. Posso até defender a Petrobrás, se preciso. Mas jamais um bando de jogadores frescos que ganham em um mês o que os trouxas dos torcedores não ganham durante a vida toda.

A discussão acalorada dava mostras de que se seguiria por mais tantos quilômetros quanto trafegássemos. Depois seguiu-se um silêncio sepulcral. Tive a nítida impressão de que no silêncio ambos preparavam uma estratégia para me defenestrar do veículo em movimento. Mas a Providência Divina, grandiosa que é, fez com que chegássemos à frente ao meu escritório. O motorista, percebendo a situação patética, engrossou a voz para avisar que já tinha chegado na minha parada. Meus dois colegas torcedores fanáticos seguiriam adiante para os respectivos destinos. Despedi-me educadamente, mas me pareceu que eu tinha passado a ser persona non grata a partir daquela discussão. Ele me deu a mão com aquela pegada que chamo de amanteigada. Traduzindo, é aquela não aperta a mão da outra pessoa, como se estivesse com nojo. Ela embora tenha pego na minha mão, me fez pensar que poderia ao menos olhar no meu rosto ao dizer tchau. Ou pode ser que eu esteja sendo muito exigente.

Se alguém, assim por um acaso, pretender alugar um bom DVD durante os jogos e quiser companhia para assistir junto, deixe um recado. Obrigado.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Retrato de uma esotérica

Eram 18h30 da noite de hoje. Trânsito insuportável, pra variar. Eis que resolvo sintonizar em uma rádio esotérica, porque não agüentava mais as repetições das rádios musicais. Estava começando o programa da madame Schlebts. A dita lê cartas, receita banhos de ervas, recomenda "se apegar" a determinados anjos e ensina o que chama de "rituais" que implicam quase sempre em acender velas de cor, cada uma para um determinado tipo de problema. O programa abre para os ouvintes ligarem e se consultarem no tarô, que ela diz estar lendo durante a consulta por telefone.

- Alô, madame Schlebts, quem fala?
- Aqui é a Fulana.
- Ah... linda!!! (seguem risadas forçadas em estilo bruxístico). De onde você está falando?
- De Osasco.
- Ah... linda. Que bom! E o que você quer saber?
- Sobre meu casamento.
- Mas o quê sobre o casamento? Você já é casada?
- Sim.
- Há quanto tempo?
- Treze anos.
- Ah... linda. Faz tempo né? Olha, eu tô tirando uma carta aqui que diz que você está muito preocupada com seu casamento, hein?
- É mesmo madame.
- E o que te preocupa no casamento? To vendo aqui em outra carta que você não está se sentido bem com seu marido. O que acontece?
- Ah, madame Schlebts... Sei lá, to sentindo assim uma certa distância da parte dele.
- Ah... linda. Tô vendo aqui em outra carta que você está desconfiada, hein? Até que você está desconfiando de uma pessoa próxima dele. Tem alguém assim, próxima dele que está despertando desconfiança sua? Há quanto tempo você tá casada mesmo?
- Treze anos. Mas olha, madame...
- Ah... linda. Mas sempre tem uma desconfiança né? Você desconfia de alguém?
- Não, assim que eu me lembre assim, ninguém.
- Ah, linda... mas aqui nas cartas diz que não tem ninguém mesmo, viu? Desencana com isso. Eu to vendo aqui em outra carta que o seu relacionamento está muito parado, morno! Tá faltando alguma coisa entre vocês dois, hein? (seguem as risadas bruxísticas)
- Ah, isso tá mesmo viu, madame Schlebts.
- Então, tá vendo? Tá tudo aqui nas cartas. Olha, linda eu vou te dizer uma coisa: você é um pouco cobradora não é mesmo?
- Até que não, madame. Eu fico mais na minha. Mas tô preocupada.
- Ah... linda. Mas essa sua vozinha doce não me engana viu? (risadas bruxísticas) Você tem um jeitinho daquelas mansinhas que 'fica' em cima cobrando... (mais risadas bruxísticas)
- ...
- Olha linda, tô vendo aqui no tarô que se você não 'fazê' nada, linda, o seu casamento pode ir pra uma separação ainda este ano! Faz o seguinte: acende uma vela vermelha e pede pro anjo Samuel (???) colocar paixão no seu casamento, acende uma vela rosa também e leia o salmo 1 e o salmo 23. E olha linda: vai no domingo no 'Espaço Schzneeptz' que fica na rua tal número tal, pertinho da estação Tatuapé. Vai ter um ritual lindo de magia pra todas as pessoas tirarem essas coisas ruins da frente, viu linda? Eu mesma vou estar lá orientando vocês. Só precisa de uma pequena contribuição de X reais pra ajudar a manter o espaço lá, viu linda? Olha, e liga pro meu telefone 555-5555, fala com minha secretária e marca uma consulta comigo, viu linda? Ela te explica o valor, horário e tudo, viu linda? Eu vou ficar uma hora com você pra gente tirar mais cartas, rezar juntas e eu vou te ensinar um ritual infalível.
- Tá, muito obrigada madame Schlebts! Ai que bom, viu?
- Mas vai mesmo, viu linda?
- Tá. Obrigada.
(risadas bruxísticas...desliga o telefone)
- É gente, viu? Essas coisas são fogo. Ah, produção, tem mais ouvinte na linha? Pode pôr. Alô, quem fala?

Nesse momento, por razões compreensíveis, eu coloquei um CD do Zeca Baleiro.

Sem comentários e sem perguntas, por favor.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Balanço da tragédia anunciada

Os principais colégios de São Paulo não foram atacados por bombas de nêutrons.

Os túneis Maria Maluf, Rebouças, Ayrton Senna e Tribunal de Justiça não foram interditados por piquetes do PCC.

O viaduto Aricanduva não foi implodido no horário de rush.

O reservatório Cantareira não foi envenenado com duzentas toneladas de Mercúrio.

O Palácio dos Bandeirantes não foi tomado (que pena).

A Assembléia Legislativa não foi bombardeada por helicópteros do PCC (incompetentes esses bandidos).

A Catedral da Sé não foi incendiada.

Os quinze shoppings da capital não foram explodidos simultaneamente. Aliás, nem uma biribinha foi deflagrada.

O metrô Corinthians-Itaquera não passou de madrugada a se chamar PCC-Itaquera.

As rebeliões nos presídios não resultaram na "maior debandada da História".

E a lenda do "toque de recolher" foi na verdade uma boa desculpa para quem pôde chegar mais cedo em casa e jantar com a família, como eu.

A propósito: George Bush mandou avisar que não pretendia de forma alguma enviar tropas de mariners para salvar São Paulo, ok?

Obrigado a todos os amigos e amigas que se preocuparam, cuidadosa e meticulosamente, em enviar dúzias de e-mails, dezenas de mensagens instantâneas, SMS´s e mesmo telefonar-me para prenunciar as tragédias acima.

Graças a todo esse carinho e atenção não consegui telefonar para meus clientes para garantir o pão de cada dia. Tragédia será se eu não conseguir repor essas horas e reais perdidos.

sexta-feira, 12 de maio de 2006

As arapucas dos classificados de emprego

Caros amigos desempregados. Nestes tempos de desemprego social crônico, multiplicam-se as arapucas disfarçadas de emprego. Vasculhando os classificados eu constatei o óbvio ululante: há mais roubadas do que oportunidades. Mas a dica está sempre nas entrelinhas. A seguir algumas expressões encontradas e o que elas significam na verdade, para lhes servir de manual preventivo.

“NÃO EXIGIMOS PRÁTICA”
Quer dizer: os donos da empresa são aventureiros e não conhecem o negócio. Por isso, não conseguirão avaliar seus conhecimentos, o que explica a baixa exigência.

“EMPRESA EM EXPANSÃO ADMITE”
“Em expansão” é como o dono acha que a empresa está... Mesmo cheia de protestos, impostos atrasados e uma fila de cobradores à sua porta.

“POSSIBILIDADE DE GANHOS ATÉ R$ _______,00”
A cifra sempre é o que você ganharia se vendesse sozinho toda a produção anual da empresa por 10 anos consecutivos. Se quiser tentar, depois não venha dizer que o tio Xavier não avisou.

“TRABALHE EM CASA”
Traduzindo: os caras não vão te registrar, não te pagarão Vale-Transporte, nem Vale-Refeição, nem FGTS, nem INSS. Para não se complicarem com o Sindicato nem com o MT, querem que você dê duro bem longe da sede da empresa. Mas os resultado$ eles vão querer.

“VENDA PRODUTO INÉDITO”
Pergunte-se: Por que o produto é inédito? É porque jamais alguém conseguiu vender uma só peça. Algo como lâmpadas pretas, parafusos sem rosca ou bolas de futebol cúbicas. Não se iluda: você também não conseguirá vender uma só unidade. O produto continuará inédito. E o anúncio estará lá na próxima edição.

“ADMITIMOS VENDEDORES: PRODUTO DE GRANDE ACEITAÇÃO”
Se é de grande aceitação, por que eles precisam de alguém para ir atrás dos clientes?

“TENHA SEU PRÓPRIO NEGÓCIO”
Ou seja, eles vão te encher a mala de quinquilharias para vender, te pegar um cheque-pré como garantia e pronto: você é dono do seu próprio mico (ops! desculpe) negócio. Prepare-se para rebolar para cobrir o cheque daqui 30 dias.

“EMPRESA MULTINACIONAL RECÉM-INSTALADA NO BRASIL ADMITE”
Pode ter certeza: os golpistas são imigrantes clandestinos e estão sendo processados em dezenas de outros países. Chegou a vez de dar chapéu nos brazucas.

“ADMITIMOS PARA VÁRIOS CARGOS”
Essa é fácil: os caras demitiram 95% do quadro. Agora precisam reestruturar a empresa, pagando 1/10 do que os antigos empregados ganhavam.

“NÃO SE EXIGE ESCOLARIDADE”
O trabalho deve ser prá lá de duro. Provavelmente uma carvoaria. E mais: como os donos são analfabetos, não vão admitir ninguém que leia e escreva.

“MOÇAS DE BOA-APARÊNCIA”
Safardanas. Se é para trabalhar, o que tem a ver a aparência, hein? Pode crer: os donos da empresa são dados a um assediozinho básico e, digamos, são um pouco exigentes...

“INDÚSTRIA ADMITE ‘MEIO-OFICIAL"
Entenda fácil: o empregado trabalhará por inteiro, em jornada integral, executará 100% da produção para o cargo. Mas ganhará metade do menor salário da empresa e ainda será subordinado ao faxineiro. Translating: meio-oficial = meia-boca. Melhor ficar em casa.

Benesses do mundo virtual

Esta manhã senti o frio que pedia para eu me manter sob os edredons. Mas, este pobre Sísifo tinha mesmo que levantar para novamente rolar a enorme pedra morro acima. Entre o banho e a xícara de café quente, meus dois neurônios se interligaram e começaram a produzir uma fantástica estratégia para este dia. Abri minha agenda e confirmei que eu não receberia nenhum pentelho no meu escritório, tampouco tinha agendado visita a cliente. Todas as pendências eram internas.

Liguei o computador do meu quarto, conectei remotamente o servidor do meu escritório e fi-lo discar uma combinação cabalística de algarismos, asteriscos e jogos-da-velha. Shazam! As chamadas para o escritório seriam devidamente encaminhadas para minha casa. Ainda pergunta porque adoro a tecnologia?

Cá estou agora tocando meus afazeres, agendando compromissos e respondendo orçamentos. Coisas que posso perfeitamente fazer no conforto quentinho do meu quarto. A Santa Ifigênia também pode me esperar até segunda-feira.

Se alguém for passar aqui nas imediações, favor trazer pãozinho quente e mortadela que eu providencio um cafezinho. Obrigado.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

O Leviatã dos bytes

Minha tara por quinquilharias informáticas tem muito a ver com o entretenimento que me propiciam. São fotos, músicas e vídeos que fazem o meu lazer doméstico (a propósito, agradeço ao camarada Vincent pelos .vcd e .avi que propiciam a mim e à minha darling bons momentos). Já no trabalho a tara é a mesma, só que se deve à utilidade na transferência de dados, envio eletrônico de documentos, compartilhamento de informações, desenvolvimento de programas, comunicação online e offline e um caminhão de outras coisas sem as quais eu não conseguiria fazer tanta coisa sozinho. Não consigo me imaginar sem elas. Basta eu ficar sem internet por algumas horas, que minha mente se fecha e não consigo coordenar as mesmas tarefas do cotidiano. Tecnodependência aguda. E o pior: não quero ser curado.

Vou contar uma breve passagem de minha miserável vida, que quase justifica o meu apreço pela posse de computadores, já que sou feliz proprietário de cinco e usuário de quatro deles, mais duas impressoras e um scanner.

Eram idos de 1994. Eu estava de volta à Sampa City após separar-me e estava duro como peroba. E com outra característica da madeira - minha cara-de pau - pus-me a procurar trabalho e reconstruir minha vidinha, que não era tarefa simples. Tendo ficado por três anos meio distante de teclados e monitores, mesmo após ter possuído um PC/XT, programado em Cobol e operado vários micros, deparei-me com um mundo informático bem diferente. E percebi nas agências de emprego, que os candidatos portavam currículos feitos em computador. Para não passar por obsoleto, fui à caça de um possuidor de micro e impressora. Cheguei até a enfrentar decepções com alguns conhecidos informatizados, que eu achei que se disporiam a me ajudar. Até que fui procurar acolhida no sindicato de minha categoria: o Sindpd. Lá fui prontamente atendido pelo Antônio Neto, que muito depois fui saber que era o presidente. Com a boa estrutura que tinham e gentileza idem, pude usar um computador com MsWord/DOS e ainda imprimir duas dezenas do meu currículo, de sorte que logo arranjei trabalho na área. E este é o ponto: prometi a mim que nunca mais me permitiria faltar um computador, para eu conseguir ganhar a vida no mundo informático, e não mais passar humilhações ao pedir ajuda.

Depois de mais tempo do que eu pretendia, me encorajei e comprei um PC na hoje "falecida" Byte On. Diga-se de passagem que o dito 233/MMX ainda funciona bem na casa de minha irmã com seus infinitos 4,1GB de HD e 32MB de memória, inclusive rodando banda larga. Depois comprei um notebook Compaq de 600MHz/HD10GB/200MB que paguei em suadas 15 prestações. Uma outra vez comprei um P-IV/1,6GHz/HD40/256MB de uma amiga que precisava de grana. Depois comprei outro de 1,8GHz/HD40/1GB pra alugar como servidor remoto em uma empreitada com um cliente. E em outra ocasião me dei de presente no dia dos pais um de 1,8GB/HD40/500MB (atualmente com 2 HDs somando 120GB). Então passei a colecionar .mp3, .avi, .vcd uma infinidade de arquivos de entretenimento. Ainda armazeno nele o backup do meu trabalho que eu copio e transporto do escritório para casa semanalmente.

Com o tempo, todas as máquinas foram turbinadas com acessórios vitais como DVD, gravador de CD, placa de som e outras quinquilharias, cuja falta praticamente impossibilita a vida humana. Essa megabytica posse, aliada à concentração de meu entretenimento musical e visual no computador me trouxe-me outro tipo de preocupação: e se eu perder meus dados? Todo o árduo trabalho de digitalização de LP´s, fitas K7 e de CD´s originais que eu tenho, filmes e afins podem ir para a cucuia, se eu não me precaver com um método de cópias de segurança bem bolado. Me flagrei comprando mentalmente um novo HD de alta capacidade e um case USB para torná-lo móvel e não me ver no inferno frustrante da perda de dados qualquer dia desses. Afinal há uma concreta possibilidade de ¹/999.999 de que todos meus HD´s pifem simultaneamente e, desse modo, eu poderei evitar o suicídio.

Acho mesmo que estou doente. O Leviatã dos bytes se tornou maior, dominou minha mente e eu e já não consigo resistir aos seus apelos para alimentá-lo. Preciso comprar mais coisas para ele. A propósito, amanhã vou na R. Santa Ifigênia. Alguém quer alguma coisa?

sábado, 6 de maio de 2006

Notícia para quem precisa de notícia

Intrigante como a imprensa e a mídia em geral têm poder de fazer pessoas, de todas as classes sociais e níveis de escolaridade, repetirem bordões pelas ruas. Da repetição contante esses mesmos incautos passam a assumir o conteúdo dos bordões como sendo seus. Tornam-se mantras vibrando mentalmente após a repetição.

Para citar um caso corrente, falemos do "sapo barbudo". Antes de tudo, me exclua dos apologistas-zumbis do governo dele. Continuo achando o governo dele uma porcaria. Lamento ver muitos de meus ex-colegas de militância política apresentarem qualquer governante correligionário, como sendo o supra-sumo da governância, pois os exemplos ruins se superam a cada eleição. Só que as minhas críticas ao governo atual são por razões diametralmente opostas às da imprensa burguesa. São motivadas pelo não-cumprimento do ideário original, do fantástico movimento que culminou na eleição do atual presidente. Tenho orgulho de ter militado e construído a História durante as duas décadas passadas. Mas tivesse o programa original do movimento sendo seguido, mesmo que timidamente, aí sim veríamos verdadeiros torpedos nucleares anti-governo na mídia. Quem tá na chuva é pra se molhar. Mas voltando aos pobres diabos repetidores ele sequer sabem no quê e por que estão maldizendo o presidente. Apenas repetem. E à primeira pergunta sobre suas motivações mais profundas, costumam responder coisas como "Ahn... hum... sei lá, viu?". São os mesmos que reclamavam que as vendas estavam ruins porque o dólar estava alto e agora reclamam que as vendas estão baixas porque o dólar está muito baixo. Falta de conhecimento e preguiça mental, se não matam, aleijam o cérebro.

Os indicadores econômicos e sociais atuais são sem sombra de dúvida melhores do dos das últimas duas décadas. Em um país onde infelizmente se permite depender de know-how estrangeiro para tecnologia em geral - de eletroeletrônicos à telecomunicações - ter um dólar em uma banda razoável (2 x 1) permite à inúmeras empresas e lares o acesso à informática, telefonia, entretenimento doméstico e outros, sem os quais não é possível imaginar vida no mundo moderno. Minha modesta planilha de vendas indica hoje que até lojinhas de calçados possuem dispositivos que há cinco anos eram privilégios de grandes empresas multinacionais. Não são estatísticas, são fatos. O nosso paupérrimo crescimento da produção - que já está a esbarrar nos limites do parque energético - é absolutamente positivo, se comparado ao decréscimo que sofremos entre os anos 80 e 90. Os números da ocupação escolar idem. Estamos recuperando o contingente escolar nos níveis básico e médio e aumentaram as vagas de ensino superior. Nossa frota automobilística de passeio rejuvenesceu. A diversidade de marcas de produtos de consumo nas prateleiras traduz um silencioso movimento talibã de pequenas marcas, rumo ao glamour das venda em massa.

Mas os incautos preferem assistir à TV e resumir sua leitura de jornais às manchetes e capas de revista com foto-montagens e ilustrações que mais parecem cartoons de mau gosto. Tudo para não ter o doloroso trabalho do raciocínio crítico. E continuarão repetindo também que "política é assim mesmo" e que os únicos torcedores vândalos são os corinthianos. É mais cômodo.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Carta aberta aos amigos spammers e hoaxers

A você que me ligou perguntando se o Orkut vai ser pago, por gentileza deposite a sua mensalidade na minha conta. Não sabia que me cadastrei como representante do Orkut?

A propósito, o Orkut 2.007 não será enviado por e-mail. Eu sugiro não clicar naquele link contendo um arquivo .exe, nem encaminhar quinhentas mensagens para todos da sua lista. Você não conseguirá nada além de encher o saco de todos. Comigo você conseguiu.

Nenhuma criança internada com doença rara está conectada a um notebook, nem vai ganhar 10 centavos a cada mensagem encaminhada. Tente a tecla [del].

Minha CPU não vai explodir, nem vou ficar impotente, nem minha mãe vai morrer seca se eu não encaminhar essa sua mensagem originada em 1.830 ao norte da França, para revelar as palavras da mãe de Jesus.

Aquele e-mail de recadastramento da sua conta bancária não foi o banco quem mandou. Mas se você quiser preencher os dados do formulário, vai fundo. Boa sorte.

Nenhuma Boysband, Grupo de Pagode, Axé, Funk e afins vai ser extinto a cada cinco mil mensagens encaminhadas. Não seria má idéia, mas infelizmente não é fato.

Eu não vou achar lindo se um coqueiro colorido aparecer ao lado de cada um dos meus contatos, nem se cada um deles ficar com uma cor diferente.

Odeio clicar em peixinhos. Eu tenho vontade de dar um tiro no meu aquário, cada vez que você me manda isso.

Nada, repito: ABSOLUTAMENTE NADA, aparecerá no na tela do seu computador se vc apertar F5, F8, ou todas as 105 teclas simultaneamente, depois de encaminhar alguma de suas mensagens bestas.

Chega de pensar em ganhar dinheiro fácil e vá trabalhar! Essa história de ganhar grana a cada tantas mensagens enviadas, só acontece nas mentes fantasiosas de debilóides vagabundos como você.

O megasuperpowerhiper vírus do ursinho, temido pela McAffe, pela Norton, pela Microsoft e pelo Pentágono não é um vírus, tá? É apenas um arquivo do próprio windows. Como você (talvez, quem sabe) venha a desconfiar, uma vez apagado ele prejudicará algumas funcionalidades do sistema.

E, pela última vez, não repasse nem mesmo este texto para seus quinhentos contatos. Eles têm mais o que fazer do que ler seus e-mails idiotas.

terça-feira, 2 de maio de 2006

Meus colegas de trabalho

É manhã e estou em minha mesa localizando meus afazeres e determinando as prioridades. Leio os e-mails, reporto os spams e imprimo o extrato bancário. Mais um dia que começa na minha rotina profissional.

A Renilde*, assessora de imprensa, me cumprimenta de forma empolgada. Deve ter saído com o namorado na véspera. Karl*, diretor de criação, nem tanto. Parece um pouco abatido. Flanders*, engenheira química, comenta algo sobre o noticiário do dia anterior. Digo a ela que não assisti e nem estava sabendo do tal atentado. Jorge me avisa que um determinado pagamento não foi feito, mas será feito impreterivelmente naquele dia. Luchesi*, o advogado, está um pouco nervoso com uma audiência que terá à tarde. Teresa me pergunta se tenho algum orçamento para passar para ela. Durante todo o dia esses e outros colegas me abordam, entre um trabalho e outro, para comentar um fato, tirar uma dúvida ou perguntar sobre alguém ausente. Um pouco mais tarde, o diretor de arte talvez com pouco trabalho e já com o humor melhor, parece estar com a caixa de piadas renovada. Ao contrário, o advogado está preocupado e mal responde minhas perguntas.

Isso tudo representaria um ambiente absolutamente normal em qualquer empresa. Exceto pelo fato de que Karl e Teresa estão em diferentes cidades de MG, Flanders no RJ, Jorge é meu cliente e está no interior de SP, Luchesi no RS e Renilde - a mais próxima - está em Sampa como eu, mas a 14Km de meu escritório. Estou fisicamente sozinho em minha sala. Todo o pessoal que me cumprimentou, contou piadas, mágoas, me ajudou com orçamentos e enfim me fizeram companhia está próximo de mim virtualmente mediante um comunicador instantâneo na internet. Sinal dos tempos. Antes da internet isso seria impensável. A mesma internet que me permite despachar instantaneamente trabalho para empresas parceiras, trocar orçamentos, fechar negócios rapidamente e redespachar o pedido para representadas, que me permite fazer tantas coisas sozinho, acaba sendo em parte culpada por eu trabalhar praticamente sozinho.

Bom ou mau? Não sei. Mas é a realidade dos tempos modernos. Colegas de trabalho virtuais. Feliz é o Sívio Santos que está sempre perto das colegas de trabalho.

* Os nomes assinalados são pseudônimos a pedidos. Parece que os patrões deles não sabem que ficam papeando no msn o dia todo.

O petróleo é nosso e o gás é deles

Tudo bem. Você não tem dinheiro nem tecnologia para explorar determinado recurso energético. Aí eu vou na sua casa, faço um acordo de cooperação e co-fornecimento e entro com a caríssima tralha toda. E tudo vai bem.

Então você acorda uma manhã e - acostumado com a visão da tralha funcionando - deixa-se por um momento devanear e acha que a tralha é sua, já que está no seu quintal. E sobe com seus cabos eleitorais na minha tralha pra fazer bravata, dizendo que a festa acabou.

Sei que diplomacia internacional não se resolve assim. Mas haveria uma possibilidade de que eu fosse até minha tralha, retirasse meus amigos e pusesse fogo naquela merda (até parece que custou déirreal). Queria ver quanto tempo você agüentaria. Será que eu estou louco ou tem gente mais sem noção do que eu nesse mundo? Que raio de titica há na cabeça de um sujeito que preside um país do tamanho de nossa Minas Gerais, enclaveado pelo Chile e por um pedaço do Perú ficando sem acesso ao Pacífico, para achar de uma hora para outra que o acordo dantes não vale mais?

Posso estar total e obtusamente errado. Mas lembre: é minha grana e sua grana que estão lá. E, para quem não sabe, o fornecimento de gás de um número considerável de empresas brasileiras está comprometido. Os ramais do tal gasoduto são extensos e complexos aqui no Brasil. Tem empresas envolvidas, gente trabalhando na manutenção, outros abrindo novos ramais e por aí vai.

Sei não, mas acho que umas boas porradas nesse bravateiro não seriam de todo mal. Me dá um caça F-alguma-coisa, que eu convenço ele rapidinho na segunda manobra. Ah, com o piloto por favor, porque não sei nem onde liga.