sábado, 13 de outubro de 2007

Drops DVD: Tropa de elite

Ontem resolvi assistir ao tão falado Tropa de Elite, BOpE, ou seja lá qual for o nome correto do filme. Não fui ao cinema, só pra variar. Esta semana uma colega de sala de aula estava de posse de uma das versões camelódricas do DVD e por mero acaso naquela noite o tio estava com o notebook na mochila. Então fiz um backup básico. Ontem à noite gravei em um RW, esperei a pequena ir dormir e mandei bala na sala.

Em resumo o filme é entretenimento garantido. Nenhum grande nome consagrado mas dos atores, cuja maioria eu desconheço, todos foram suficientemente bons. As cenas de ação são bem feitas, se as olharmos dentro do padrão brasileiro. Ressalto isto, porque o povo tem mania de analisar o cinema não-estadunidense com base em critérios hollywoodianos. Hollywood é outro mundo no que diz respeito à linguagem, às técnicas e à fartura tecnológica que acaba por ditar moda no mundo. Mas o cinema fora dos domínios ianques precisa achar cada um a sua linguagem. Não dá para conceber filmes japoneses, chineses, iranianos, brasileiros ou de onde quer que seja, se tentarem apenas macaquear os gringos. A cópia sempre há de sair um cover chinfrim do original. Eu defendo que o cinema brasileiro tem jeito sim, tem que ser financiado por incentivos tributários - lá nos EUA é, viu? - mas tem que achar a própria pegada. Dito isto, jamais tente comparar um tiroteio de Tropa de Elite com os oitocentos efeitos especiais dos filmes de Bruce Willys. Até porque os destes são hiperfantasiosos. Não há coisa mais seca e direta que um tiro. Mas Hollywood tem o poder de dar dimensões nucleares a um simples disparo de pistola 380.

Voltando ao filme brasileiro, ele tem aquele jeitão panfletário, que caracteriza boa parte dos nossos filmes. É um filme-mensagem, no melhor estilo estilo glauberiano, só que melhorado - e muito - pelas atuais tecnologias e primor cênico. E neste último quesito os atores foram bons mesmo, sem ressalvas. Mas a maior sacada de Tropa de Elite é o panfleto mesmo. Jogar na cara da classe média e alta o fato de elas sustentarem o poderio dos mercadores de drogas e hipocritamente saírem em suas ridículas passeatinhas pacifistas não foi qualquer coisa. A equação mostrada no filme é simples e direta: por trás de um ingênuo cigarrinho de maconha fumado por um estudante universitário esconde-se todo o complexo de relações, que vão desde o aviãozinho do morro, passando pelo fogueteiro, até chegar nos chefes da indústria dos entorpecentes. A teia mostrada no filme é extensa e percorre muito mais que os morros, articulando-se com praticamente cada um dos policiais corruptos e comerciantes corruptores do sistema. Sistema, a propósito, é um chavão abundante na narrativa em primeira pessoa, protagonizada pelo ator principal, Wagner Moura, no papel do Capitão Nascimento. Não vejo definição melhor, já que define uma enorme gama de subsistemas e relações menores que formam um conjunto maior e funcional que é o mercado de drogas, armas e a violência social.

Algumas críticas que se fizeram por aí se ancoram em pieguismos de que o filme estaria fazendo apologia à truculência policial, blá, blá e blá. Os mais puristas chegam a mostrar-se escandalizados com os métodos interrogativos mostrados no filme, que usam sacos plásticos para sufocar e porrada, muita porrada. Não sou policial nem jamais pretendi ser um. Também sou contra a truculência, mas é quase inverossímil lidar de outra forma com uma força criminosa bruta como a mostrada do filme. Imagine o que há de ser lidar com a extensa rede de colaboração do tráfico, composta por moradores coagidos e outros tantos recrutados, somados a inúmeros policiais e autoridades corruptas. É um trabalho quixotesco. Mas é bem capaz que esses mesmos críticos da truculência em Tropa de Elite achem bonito quando o protagonista de Duro de Matar enche um terrorista de porrada ou mesmo acaba com ele com um tiro no meio da testa. Filme policial sem violência não tem graça, ora bolas.

Assista sim mesmo. O tio recomenda. A propósito: ao menos tire as crianças da sala.

Um comentário:

Musa de Caminhoneiro disse...

O melhor de Tropa de Elite são as frases imperativas do Capitão Nascimento: "Pede pra sair, 02!" "Vai enfiar o fuzil aonde?" "Tira a caça dele. Pega a vassoura". hahahaha

Aqui no Rio, viraram bordões